Cacá Carvalho tem uma trajetória incomum, um percurso de vida artística único. Teatro, cinema, TV, tudo fez ou faz parte de seu cotidiano. Mas o que o interessa verdadeiramente é perscrutar o homem e sua crise em viver, esse é centro da questão para ele. Por isso agora, ineditamente, ele se debruça no texto “Memórias do Subsolo”, escrito por Fiódor Dostoiévski e estreia dia 14 de março, às 20 horas, no Sesc Santo Amaro, o seu novo espetáculo, “2 x 2 = 5 O Homem do Subsolo”.
O ator
Há exatos 21 anos, Cacá Carvalho estreava seu primeiro Pirandello: “O Homem com a Flor na Boca” [1994], depois vieram “A Poltrona Escura” [2004] e “umnenhumcemmil” [2011]. Portanto, Pirandello sempre foi um autor que o motivou em suas digressões artísticas e filosóficas do fazer teatral. Agora, com Dostoiéviski, Cacá Carvalho quer colocar em cena todo o universo subterrâneo de um homem que abandona o convívio social e tem como bem precioso (e também seu sofrimento), a consciência do significado de estar aqui, entre os vivos, entre os seres humanos.
A equipe com a qual Cacá Carvalho trabalha se mantém a mesma há 27 anos: na direção Roberto Bacci, no cenário e figurino Márcio Medina, na dramaturgia Stefano Geracci e na luz Fábio Retti.
Essa montagem de 2 x 2 = 5 O Homem do Subsolo é a primeira produção do Teatro della Toscana, uma junção da antiga nomenclatura Fondazione Pontedera com o atual Teatro de La Pergola, em Firenze, na Itália.
Segundo o importante crítico italiano Andrea Porcheddu, “… o ator brasileiro [Cacá Carvalho em “2 x 2 = 5 O Homem do Subsolo”] não hesita em atirar-se no jogo de representar visceralmente: arrasta consigo sua máscara pelos abismos – não somente mentais – de Dostoiéviski. De fato, toca também nos extremos de uma “fisicidade” exposta desde o início, tornando-a a seu modo sacra. (…) Ali dentro daquele cenário, ele cava – espião humano desesperado – o protagonista na procura da memória de si, de algum trapo de felicidade, de alguma liberação social e pessoal da hipocrisia e da frustação. Ele está ali, com a sua barriga, com aquele seu corpo evasivo acertando com as contas com o seu passado.
Sinopse
Em cena um homem que, depois de passar a vida à procura de um pensamento consciente, aprofundou-se no subsolo de si mesmo. Ali, a luz da consciência transformou-se em escuro, transformou-se naquilo que de mais terrível possuímos. Ali está um homem cínico, um homem amargurado, um homem sem hipocrisias que gira, fazendo piadas sobre si mesmo. O que vemos em cena é um espetáculo-confissão, que não deixa espaço para a hipocrisia. O personagem de Dostoiévski é um homem amoral, que mergulha nas profundezas para encontrar o sagrado.
2 x 2 = 5 O Homem do Subsolo
Uma pessoa realmente consciente pode ter algum respeito por si? Pode-se ao menos com si mesmo ser absolutamente sincero sem ter medo de toda a verdade? Que coisa se pode esperar do homem, se na realidade ele é uma mistura de tantas estranhezas?
O espetáculo é resultado dessas questões ancoradas na literatura de Dostoiévski. É um espetáculo que balança o ânimo e obriga a reflexões. Estar de acordo com todo o discurso do personagem, deste homem que sofre de fígado, que grita contra o mundo verdades e não verdades, estar de acordo com tudo é difícil, porque significaria acabar com qualquer perspectiva de viver uma existência minimamente decente, porém, os pontos que ele toca, que nos revela, guia-nos na direção de uma descida escura na nossa consciência.
Dostoievski dizia, “estou escrevendo um romance que me dá muito sofrimento”, em outra carta escreve: “Eu tenho nervos fortes, e não consigo ter domínio de mim mesmo”.
Este tormento interior que parece apertar o escritor Russo, em uma mordida na própria vida sem saída, revela-se inevitavelmente em todas as páginas deste texto, aparece como o espelho de sua alma, em um período de profunda reflexão diante do sofrimento de sua mulher na cama, mas ao mesmo tempo, de muita lucidez e de grande ironia intelectual.
Nunca, como neste conto, Dostoievski colocou-se tão a nu, colocou no papel o seu subsolo, o seu escuro e penetrante tête-à-tête, consigo mesmo. Uma auto confissão, do protagonista-narrador que golpeia com a sua dissecante crueldade às dores de um anti-herói, como ele mesmo se define, e representa perfeitamente a crise do homem moderno, numa época de transição e de conflitos.
Neste romance, Dostoievski apresenta-se como absoluto antecessor de Freud e da sua teoria da psicanálise, Dostoievski se analisa melhor do que em um leito de psicanálise. Com a consciência plena de que “precisamos ser sinceros primeiramente com nós mesmos”, o autor persegue-se, indaga, sacode-se sem nenhuma piedade, a própria bagagem interior, o resultado final de tal análise.
Ficha técnica
Direção: Roberto Bacci
Dramaturgia: Stefano Geracci
Elenco: Cacá Carvalho
Cenário e figurino: Márcio Medina
Desenho de luz: Fábio Retti
Música Original: Ares Tavolazzi
Tradução para o português: Anna Mantovanni
Produção: Teatro della Toscana, Teatro Era Csrt e Casa Laboratório para as Artes do Teatro
Serviço
2 x 2 = 5 O Homem do Subsolo
Local: SESC Santo Amaro – Rua Amador Bueno, 505 – Santo Amaro, São Paulo
Data: de 14 de março a 25 de abril de 2015
Horário: quintas e sextas, às 21h; e sábados, às 20h
Duração: 80 minutos
Recomendação: 14 anos
Lotação: 279 lugares
Ingressos: R$ 20 (inteira/ público em geral) e R$ 10 (aposentado, pessoa com mais de 60 anos, pessoa com deficiência, estudante e servidor da escola pública com comprovante) e R$ 6,00 (trabalhador do comércio de bens e serviços e turismo credenciado no Sesc e dependentes)
Informações: 11 5541 4000
Por redação
Foto divulgação